terça-feira, 28 de setembro de 2010

Desafinações.




Em um relacionamento, quando olhamos para o lado o que vemos? vamos o outro, a nós mesmos, o Mundo?

Acredito que todo relacionamento amoroso passa por um momento em que nada existe além dos amantes, em que um e outro se bastam, são suas comidas e bebidas, ar e água e sustentam um ao outro independente do que aconteça, independente do mundo...independente da vida.

Mas...e quando o Mundo entra na relação? aí o que pode acontecer só Deus sabe, ou nem mesmo ele, tal é a presença avassaladora da Vida nos entremeios de um casal apaixonado. No princípio o Amor sustenta, ele toma seu lugar na vida dos amantes e motiva toda e qualquer busca nos descaminhos do mundo. Mas há um outro momento específico em que esse Amor já não consegue por si só sustentar o peso do Mundo e acaba abrindo pequenas frestas, brechas por onde entra, um dia um som...uma voz, no outro uma música bela, uma poesia...imagens, natureza...a beleza do Mundo vai entrando de forma sorrateira dentro do refúgio dos apaixonados e quando estes se dão conta: já é tarde demais! já falam outras línguas, já olham pra outros lugares...não cantam mais o mesmo coro afinado de antigamente e suas vozes agora, o máximo que produzem juntas são monossilábicos "hum", dados após alguma informação irrelevante e burocrática.

O Amor detesta a burocracia do cotidiano...ele comunga com os mais elevados desejos do espírito humano...ele busca a transcendência...o sair do tempo...

Já escrevi antes aqui sobre o desencontro, sobre os descaminhos que nos conduzem a direções e buscas opostas...mas agora estive pensando...niguém toma bruscamente um caminho, como que de assalto...este caminho é que vai entrando  em nós, embriagando, desafinando o coro (e o corpo) que antes costumava comungar com o outro, seu parceiro, em rituais sagrados cotidianos de amor...o Mundo vai sorrateiramente plantando raízes em nossas almas, fazendo com que busquemos a dança mágica e livre da Vida...

Os signos do Mundo, suas cores, cheiros e sons invadem silenciosamente o espírito dos amantes e quando estes se apercebem estão tomados do desejo de ir...ir para onde? não se sabe...quer-se apenas ir...seguir a direção oposta que o Mundo nele colocou, inspirou, alimentou e desafinou cotidianamente para que não se perdesse o ritmo das Coisas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Respiro amor e poesia...

não pedimos ao amor a realização de alguma promessa futura, nem esperamos dele o absoluto, a felicidade ou o repouso, mas apenas um instante de vida plena, na qual os contrários - vida e morte, tempo e eternidade - estejam reconciliados...E. Jardim

Para o mexicano Octavio Paz, a poesia é a forma de comunhão com o mundo...através de um mergulho na experiência sensível da poesia e do amor, o homem se libertaria de sua solidão e transcenderia a sua experiência individual...ao contrário da poesia idealizada, ou do sentimento pragmático, para este amante da palavra, a experiência poética e amorosa seria a única forma de viver o presente e a liberdade. Para ele o amor une a vida e a morte, o tempo e a eternidade em um sentimento pleno de comunhão...o amor é como o ar, necessário a vida, e a poesia sua expressão...

Eu me pergunto, existe alguma dimensão da vida que seja possível sem a poesia e sem o amor...?

Adorei ler Octavio Paz e sobre Octavio Paz...é um dos poucos autores que encontrei que fala da vida vivida, de forma inteira, sincera e apaixonada, penetrando seus mistérios com o coração e traduzindo-os pelas palavras, ele fala de algo que sempre me inquietou e que vivo com desejo de perguntar às pessoas...é possível vida sem amor e poesia? para Paz não...ainda bem...

Quando falo em amor, falo novamente do amor à vida, do amor integral, pleno, da comunhão apaixonada com as coisas, desse amor que nos imbui do presente, que nos preenche a alma e faz com que queiramos viver mais e mais pelo simples fato de que amor e vida são poesia...e são Vida!

Para mim, o amor tem várias dimensões, faces diferentes de um espelho multifacetado...onde nos vemos e vemos o outro...nenhuma dimensão da vida que se quer Vida deve tentar escapar das artimanhas do amor...é, acho que sou romântica mesmo...uma moça romântica do século XIX...por  acreditar na experiência do amor e da poesia...porque nenhuma Vida existe sem amor...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Se o sol não brilhar...a saudade




Si a tu corazón yo llego igual
todo siempre se podrá elegir
no me escribas la pared
sólo quiero estar entre tu piel...

 Escrevo hoje para falar da saudade...

não só da saudade das pessoas, mas a saudade de coisas e lugares...já perceberam como o amor e a saudade andam sempre e intimamente ligados? parece que um depende do outro pra existir, ou um é sintoma da existência do outro...

A saudade, portanto, é um sentimento bonito, é o sintoma melancólico de que há amor em nossa alma...quando sentimos saudade, podemos ter certeza que o amor dança e adormece em nós, continuamente...que ele está ali, que elegeu nosso coração como seu altar e a saudade como manifestação da sua presença em nosso espírito.

Eu falo de melancolia e saudade por perceber hoje o poder que certas coisas, tem de despertar na gente esse sentimento de casa vazia...é a saudade...é o amor....ela não está vazia, mas sentimos como se estivesse,  sentimos uma presença-ausência tomando conta de nós...como se não pudéssemos mais viver sem a presença...mas qual presença? a presença da saudade, esse jogo de ausências...
y se acaso no brillara el sol...y quedara yo atrapado aquí, no vería la razón de seguir viviendo sin tu amor...

É impressionante a capacidade de invocação a coisas sagradas que temos..e elas estão ali, sempre dispostas em nossas almas...e fico tocada quando elas resolvem emergir, seja por evocação nossa ou por alguma situação da qual não temos conhecimento....
Pra mim, o mistério das coisas, das pessoas, e dos lugares que nos fazem evocar lembranças e sentimentos, a rememorar e, assim, reviver situações está repleta de saudade e, portanto, de amor...

quando sinto a casa vazia e não tenho mais nada, a presença da saudade me consola...

...y hoy que enloquecido vuelvo, buscando a tu querer...no quieda más que el viento... no queda más que el viento...



Spinetta a saudade e a melancolia me inspiram.......

http://www.youtube.com/watch?v=BfYR6EH_9qg


quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cafuçuzando



Hoje acordei numa onda meio cafona e vou fazer um post de exceção...resolvi explorar  a sabedoria cafonística sobre os assuntos do amor....confesso que não resisti aos encantos de um cafuçu! (esse aí de cima). Afinal de contas, quem melhor do que esses apaixonados sedutores e melodramáticos para nos introduzir nas artimanhas da conquista e nos ajudar a falar sobre amor, sexo, dor de cotovelo...dor de cotovelo...e com bom humor?!

Luiz Ayrão que o diga...ardiloso, o tipo é o próprio galã de boteco...chego a vê-lo sentado no bar, cerveja na mão, olhar malicioso, suor escorrendo, e a sedução rolando solta...ai ai...enfim, vamos a sua sublime sabedoria:

Ayrão sentado no boteco,  começa a cutucar numa caixinha de fósforos: "será que essa gente percebeu, que essa morena desse amigo meu, tá me dando bola tão descontraída, só que eu não vou em bola dividida, pois se eu ganho a moça eu tenho o meu castigo, se ela faz com ele vai fazer comigo...."

É, Luiz, assim como você acho que também não vale a pena bola dividida...muito risco, muito trabalho e pouco desfrute, ainda se corre o risco de virar o dono da situação e ganhar o status de corno da vez, afinal "se faz com ele vai fazer comigo...". É castigo mesmo...concordo com esse mestre, sempre tendo a achar que minha pessoa é coisa demais pra disputar drible com alguém! Nenhuma morena sensacional e digna de crime passional vale a manchete de jornal do dia seguinte...

Então tiro o chapéu a essas pequenas frases que graças a sua ética  e estética cafuçus nos ajudam tanto em assuntos amoros práticos...servem pra quando a gente tá naquele vai e vem, naquele chove e não molha, quando o dito cujo ou a dita cuja literalmente não fodem e não saem de cima...não dão nem descemnão cagam e não saem da moita...é pra esses momentos que servem as boas doses de música popular cafona brasileira...pra rir, dar a volta na situação e poder cantar na maior que "esse camarada se androginou, a moça deu bola a  ele e ele nem ligou..."

PS: Androginou...versão acadêmica e científica para...bem... vocês entenderam! ;)

PS 1: as flexões de gênero são relativas...afinal de contas ambos os sexos podem se androginar e no bom popular fugir da raia!

PS 2: pra quem quer curtir uma versão mais "cult" da cafonice de boteco de Ayrão, pode conferir a obra prima da música popular brasileira com Zeca Baleiro...versão cafuçu século XXI! 

http://www.youtube.com/watch?v=GPff3pZZloM
http://www.youtube.com/watch?v=ZjeMWWZVu8E

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Desencontros...



Em que momento específico se dá o desencontro?

Em que lugar nossas mãos se soltam e nossas almas passam a caminhar por caminhos diferentes?

Será que sempre andamos por estradas separadas...ou somente agora, nessa etapa da caminhada uma inusitada bifurcação nos toma de assalto, separando o que já estava ou parecia definitivamente unido e rumava para o mesmo destino?

Existem destinos comuns? ou apenas criamos a ilusão de que somos ou estamos acompanhantes de alguém nessa jornada solitária? solitária mesmo?

Por vezes tenho a sensação de estar mesmo em uma viagem...num trem...passando por pessoas, tempos e lugares...nem sempre só...nem sempre acompanhada...mesmo assim  tenho a certeza que o destino sempre me reserva surepresas boas pelo caminho....encantos, algumas jóias...

Nesses encontros e desencontros guardo o prazer secreto de saber que alguns caminhos são feitos preciosa e cuidadosamente para que encontremos nele pequenas pérolas...guardo-as e sigo adiante...com o coração satisfeito, a alma leve e os passos livres...

sábado, 18 de setembro de 2010

O Sonho e a espera do Amor



-Cure- me de sonhar, Doutor.

É assim que Bartolomeu Sozinho, personagem saído dos nevoeiros da nostálgica Vila Cacimba, de Mia Couto, implora a seu médico, seu salvador, o remédio para a desgraça de sua vida: Sonhar. É o sonho que o mantém vivo e que o perpetua na espera de um novo amor...é este veneno de Deus que o faz arrastar seus dias, manter sua respiração a duras penas, enquanto suplica um bom remédio que dê cabo a essa capacidade diabólica que o ser humano tem de querer ser outro, de querer sonhar...

Na África moçambicana, pós-colonial, Bartolomeu é um ex-mecânico que não aprendeu a morrer. Vive seus dias de espera enquanto relembra os tempos de viagens, de partidas e chegadas no convés do navio por onde vagava nos mares...são essas lembranças que não o deixam morrer, são essas lembranças e a espera da visita do amor à sua casa que o prendem a seu corpo doente como um espírito cativo. Sua alma não pode abandonar a casa antes de experimentar por mais uma vez as delícias e os encantos da paixão, do saber-se vivo...

Diante de Sidônio Rosa, médico recém chegado de Portugal, o velho dá vida aos fantasmas de sua memória, e mais uma vez suplica ao Doutor: - Um sonhadeiro anda por aí, por lonjuras e aventuras, sei lá fazendo o que e com quem...Não haverá um remédio que me anule o sonho?
Diante do descrédito do médico com relação a este seu estranho pedido e a objeção de que o sonho é, por si só, a cura da vida, Bartolomeu se explica:
-Todos elogiam o sonho que é o compensador da vida. Mas é o contrário Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos.

E diante dessa melancólica constatação, Sidônio, o jovem médico impossibilitado de curar seu paciente de  sua mais profunda e verdadeira dor, se cala...o que ele sabe sobre remédios para os sonhos, remédios para a alma, cura para lembranças que não se esvaem e morte para a espera do amor?

Fica no quarto apenas a fala do  velho negro...

-Estou sonhando em justa causa, Doutor. Porque eu, se não fosse o amor, ou melhor, se não fosse a espera do amor...

O silêncio faz-se maior no quarto doente...

e Bartolomeu continua a viver...Sozinho...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

One Night Stand



Para a beleza dos amores de uma noite só...ou mais...


"...Don't you know that you're nothin' more than a one night stand.
Tomorrow I'll be on my way, an' you can catch me if you can.
Honey, take me by the hand and play that game again, yeah."

Amores de uma simples noite...podem ser extremamente belos, poéticos e sedutores. Tem seu charme sutil, seu envolvimento, sua magia...Pode-se viver uma one nigth stand muitas e muitas vezes, com o mesmo amor, ou com outro, em várias noites, em uma... Tudo depende do quanto permitimos nos envolver e entragar a esse amor. E esse amor é belo e poético porque nos acena com a possibilidade de um jogo entre afeto e liberdade, nos permite dançar, brincar com o outro, uma brincadeira consentida, leve, e que acaba por nos envolver nos seus encantos as vezes muito mais do que imaginávamos...

Para mim, os amores de uma noite podem ser ainda mais envolventes do que os amores diários, porque eles nos permitem jogar com nossas fantasias sem entregarmos todos os segredos de uma vez só...ele envolve os amantes no seu jogo de conquistas, de avanços e retrocessos, dúvidas e investidas, que somente aqueles que realmente amam o amor sabem o gosto que tem...encantador...

E aí, me pergunto, estamos abertos aos amores de uma noite apenas? aos encantos sutis de Eros quando quer brincar com nossa imaginação e nos chama para o desejo, escondendo-se e revelando-se aos nossos olhos? queremos essas palpitações, essas ondulações, queremos a incerteza? nos deixaremos ser envolvidos e amar...?

E aqui, não falo de uma transa fútil sem maiores consequências, não falo do consumo de um "objeto" que queremos possuir e trocar. Falo do amor mesmo...do amor de uma noite só, aquele amor incondicional e  de entrega que dura enquanto as estrelas estão no céu...e quando amanhece o dia, nenhum dos dois continua a rotina da mesma forma,mas disfarça no passar dos cotidianos segundos a magia da sedução e o gosto de querer mais que o beijo apaixonado do amor de uma noite deixou...É, eu mesma me apaixono e me seduzo nessas armadilhas de Eros...é difícil resistir a esse amor que quer ser livre e ao mesmo tempo busca mergulhar intensamente no outro. Não dá pra negar, é uma magia irresistível a desses descaminhos...

Assim, se você, assim como eu já teve desejo de dizer "eu te amo" em uma noite apenas...não estranhe, é o encanto dançando na alma e nos confundindo...feche os olhos, sinta a magia, embre de Janis e diga apenas: Honey, take by the hand and play that game again, yeah!...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

As chuvas de bençãos do casamento



Casamento é um assunto complicado. Há pouco tempo atrás ele podia ser coisa dada, fato consumado: toda mulher com mais de 25 já deveria estar casada e bem casada (isso quer dizer, um marido bonito, trabalhador, uma casa mobiliada e a expectativa quase satisfeita de um filho, que meigo!) hoje essas perspectivas já estão bem mais confusas. De qualquer forma, para muitas mulheres o casamento ainda aparece como uma miragem, um oásis no deserto da solidão, a salvação de uma vida de eterna busca, investimentos e decepções, nessa ordem. E é por isso que muitas delas (de nós) colocamos todos nossos sonhos nessa caixinha de madeira branca e com pérolas chamada casamento.

Queremos provar pra todo mundo (outras mulheres, de preferência) que tiramos a sorte grande, que podemos ir em frente e carregar o mundo nas costas, ou no colo se for melhor: podemos cuidar do ninho de amor que é nossa casa, trabalhar, ganhar dinheiro próprio, fazer um mestrado, doutorado, planejar viagens, ir ao cinema, ao shopping, ao teatro, comprar ingressos pra shows, fazer almoço, sobremesa, lavar roupas e louças, ter animal de estimação, se dar bem com os vizinhos, porteiro, o cara da água, a faxineira E estar sempre bem humorada e solícita quando alguma outra mulher começa a questionar: "E aí, quando vem o bebezinho?" Nossa! Tudo isso já não é suficiente?! Ufa! confesso que já fiquei cansada de listar todos esses encargos (ops, prazeres) do casamento e ainda tenho que ter jogo de cintura de sair pela tangente e responder: "Ah, não sei, to muito ocupada". 

É...e com uma cara tristinha, tipo, "fazer o que né?" e tudo isso com vontade realmente de responder "Não! obrigada, mas não quero ter filhos enquanto não tiver uma vida! não quero filhos chatos como os seus, não quero ser sugada, absorvida, consumida, devorada e cuspida feito bagaço!" Algumas mulheres tem uma coisa engraçada: quando encerram-se no conto de fadas do casamento, na torre de marfim, fechando-a com a chave de ouro dos filhos, parece que a própria existência de outras que preferem a liberdade a esse "amor sólido" passa a ser uma afronta e aí começam as exigências: "não vai casar?" .Bom, quando tiver a quase certeza de que não vou dormir com um príncipe e acordar com um sapo, pode ser .Enquanto isso...

Mas, enfim, a querida politesse nos exige sermos bem educadas e nada inconvenientes, mesmo que os inquéritos dos outros com relação a  nossa vida não sejam nada convenientes e agradáveis.

Bom, escrevo hoje para pensar até que ponto pode chegar o nível de exigências e cobranças que podemos nos colocar em busca do amor e da felicidade. Será o amor esse fardo que acabamos carregando por vezes, achando que auto-sacrifício gera felicidade magicamente? será mesmo? se sim, quando essa felicidade vem? na outra vida, outra encarnação?

Eu não tenho vocação pra santa, apesar de já ter tentado muito. E hoje digo, casamento pode ser bom com leveza, como qualquer outra escolha da vida, quando nos faz respirar, quando é música pra nossos ouvidos, quando nos faz acordar mais suaves e quando, mesmo com as tantas tarefas cotidianas, alivia as dores da vida. E casamento e amor são compatíveis? Bom, ainda não sei, essa fica pra próxima...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

o prazer da solidão


Sabe aqueles dias em que você acorda e sente o maior prazer de ser você e de estar com você mesma? chega a planejar tim tim por tim tim do seu dia, elegendo os pequenos deleites que terá, fazendo somente aquilo que gosta com a sua preciosa companhia?
Levantamos da cama, tomamos café, banho, colocamos aquela música especial (pode ser Goodnight moon de Shivaree pra mim hoje), escolhemos a roupa mais cuti, cuti, que melhor se encaixa nas nossas curvas, nos enebriamos com nosso próprio perfume e pensamos: hoje vou curtir minha companhia. Perfeito!
Vou passar a tarde entre as minhas palavras, divagando nas minhas músicas, preenchendo as horas com cheiros, sabores, tons que me comprazem e me alegram. Se ficamos em casa é como se ela fosse refúgio secreto, se estamoa na rua, é como se fôssemos passageiras de um trem em viagem constante, sentadas na janela, em poltrona de couro fofa e mais uma música a embalar os ouvidos. É, é essa a sensação que tenho ao estar sozinha, ou melhor comigo.

Nesses momentos paro e penso: o que faria outra pessoa aqui? por um instante é como se uma névoa enegrecida quebrasse aquela sequencia de pequenos prazeres, afrontando a harmonia da minha intimidade. Será que realmente preciso estar com alguem? será que quero estar com alguém? o que este alguém tem que ser ou fazer para adentrar nesse mundinho mágico que eu habito, onde tantas vezes parece não haver espaço pra mais ninguém?

Não sei, só sei que as vezes algumas pessoas desavisadas conseguem entrar, e acabam até ocupando um lugar precioso...elas acabam combinando com o conjunto de sonhos que já existe ali...e ali ficam até por conta própria ou por motivos de força maior (fatalidades, catástrofes naturais, tédio, sufocamento e outras coisas do gênero) elas tenham que sair. Isso me faz pensar se o amor, esse amor de entrega incondicional, de partilha, é realmente tão necessário. Talvez ele seja muitas vezes uma obsessão pela qual nos deixamos levar acreditando que quando encontrarmos nossa "alma gêmea" devemos abrir a ela todas as portas de nosso mundinho e entregar a ela nossas preciosas horas de auto-satisfação e prazer. Muitas vezes a alma nem é tão gêmea assim e o que acaba acontecendo é que quebramos o espelho de tanto tentar ver nossa imagem onde ela não está refletida.

Bom, penso no prazer de estar comigo e no prazer que algumas pessoas me dão ao estarem comigo.E continuo me perguntando, será que queremos o amor ou simplesmente alguém que entre em nosso mundo com a nossa permissão e tome as rédeas dele por nós? é difícil resistir ao encanto e a sedução de confiar a alguém nosso prazer e felicidade...mas, isso seria mesmo o amor? o que o amor faria ao entrar em nossa casa? o que queremos que ele faça?

Nós mulheres somos criadas para querermos um síndico,não um hóspede querido em nossas casas, por isso muitas vezes entregamos nossas chaves àqueles que aparecem prometendo não mexer em nada e quando menos esperamos já fizeram a faxina completa, jogando fora nossos sonhos e desejos mais íntimos. Por que? Por que achamos que nos entregando estaremos mais felizes? por que queremos doar tudo? altruísmo? Queremos nos livrar de nós mesmas?

Infelizmente acho que sim...

O amor é líquido ou...?

Bauman escreveu sobre a fragilidade doa laços humanos...e chamou nossas relações "consumistas" de "amor líquido". Estava pensando se o sociólogo polônes não estaria agora, com seu grande charuto, em meio a nuvens  e nuvens de fumaça a pensar se o amor seria mesmo "líquido". Poderia ser gasoso, volátil, como qualquer fumaça de charuto, como um sopro e os laços humanos, bonitinhas e frágeis bolhas de sabão...so cute! 

É, escrevo para pensar no amor! nos amores nossos de todos os dias, ou aqueles de anos que não esquecemos, que não se dissipam, amores densos ou leves e até aquelas paixões de alguns dias que secretamente ficam guardadas em algum lugar da gente, espero virar um Amor, com A maíusculo! Agora me pergunto, por que essa necessidade toda do Amor? do amor que nos redime, que nos torna melhores (é?), que nos eleva quase à condição de seres celestiais com o simples olhar do outro. Esse amor existe? 

Pra aqueles que insistem na alma gêmea digo: não encontrarão aqui nenhum consolo, é melhor procurar uma agência dessas casamenteiras, um site de relacionamentos...é, vá em frente...eu, por enquanto, não sou gêmea de ninguém, e aliás, isso de ser gêmeo deve ser bem cansativo!

Mas bem, volto ao motivo deste texto: pensar o amor. Será o amor um sentimento tão nobre? será ele leve ou denso? ele nos faz mais felizes e melhores ou completamente enlouquecidos e irracionais? Bom, sem cair nos dramalhões mexicanos, nem em Romeus e Julietas convido aqueles eternamente enamorados que amam o amor para compreender porque é tão dificil vivê-lo em uma sociedade tão volátil! É difícil amar? porque as pessoas tem medo do amor? quando estamos amando ou nos apaixonando? como reconhecer os encantos de Eros...?

Numa sociedade tão plástica, tão descartável, onde empilhamos montanhas e montanhas de conquistas como um lixo não reciclável, onde fica o amor? onde fica o gostar? como gostar de alguém? São minhas dúvidas com relação à real eficiência do trabalho do Cupido que me trazem aqui...é, ele deve estar bem frustrado e Bauman ultrapassado!